domingo, 13 de fevereiro de 2022

ATAQUE DOS CÃES: UM PRATO FRIO NO CARDÁPIO

FILME: ATAQUE DOS CÃES
TÍTULO ORIGINAL: THE POWER OF THE DOG
DIREÇÃO: JANE CAMPION
ELENCO: BENEDICT CUMBERBATCH, KIRSTEN DUNST, JESSE PLEMONS
GÊNERO: DRAMA/ FAROESTE/ ROMANCE
ANO: 2021


UM PRATO FRIO NO CARDÁPIO
 

Empatia logo pelo filme por causa da temática principal que se revela apenas no final. Diante da montanha que sugere um cão de boca aberta, preste a atacar, lembro-me de que este ano estarei pesquisando aqui em Mutum sobre um filme amador feito por conterrâneos denominado Vingança na Montanha. E vingança é a temática do meu primeiro conto enviado para uma antologia em 2016, vindo a fazer parte da obra Vendetta, editora Andross.
 
O filme de Jane Campion, diretora neozelandesa que volta a nos brindar com este trabalho, uma revisitação aos clássicos de western, consegue dizer muito com seus enquadramentos e silêncios das cenas, tendo como pano de fundo a vida rural de Montana. As paisagens são encantadoras. Lançado pela Netflix.
 
Os irmãos Burbank estão em sintonia apesar da brutal divergência de comportamento. Phil Burbank (Benedict Cumberbatch) é rude, contrastando com George Burbank (Jesse Plemons) e sua fineza que quase não faz sentido na cultura ruralesca, distorcendo da visão que temos de um Estados Unidos profundo dos anos 1925.
 
O filme faz cortes abruptos sem comprometer o entendimento. As divisão em capítulos nos coloca bem próximo do livro homônimo (The Power of the Dog) de Thomas Savage, nos apresenta três cenas que passam desapercebidas para a maioria das retinas, mas que dão sentido ao final: No Saloon que funciona agora como restaurante em que Phil, apesar de falastrão, não aparece flertando com as mulheres à disposição, o fato dos dois irmãos dormirem na mesma cama e a morte de uma vaca por antraz. Por ser baseado em uma obra literária de 1967, quem sabe aparece na série A.DA.PT.AÇÃO?
 
A mudança de perspectiva de um final vai mudando ao longo da exibição. A princípio dá a entender que a rejeição de Phil com a chegada de Rose (Kirsten Dunst) após casar-se secretamente com seu irmão, é no fundo o desejo de tê-la para si. Depois, com a visibilidade de ódio nas expressões da novata e perdida no casarão no meio das montanhas, e seu afogamento no alcoolismo, pode ser que tudo acabe em um assassinato praticado por um dos três, Phil, George ou Rose.
 


A chegada de Peter (Kodi Smit-McPhee) por causa das suas férias, filho de Rose que já era maltratado por Phil no início quando os peões vão jantar no saloon (restaurante) de Rose e Peter era o garçom. Para aplacar sua ira diante do bulling violento de Phil diante do seu jeito homoafetivo, ele aparece dançando com um bambolê. Mas há uma reviravolta quando Phil começa a lhe tratar bem e propõe trançar para ele uma corda de couro antes que se volte para seus estudos de medicina, buscando seguir na profissão do seu pai suicida. Ao vir à tona uma paixão de Phil por um amigo do passado, nos leva para uma perspectiva de um final feliz entre Phil e Peter. Mas aí é que Peter se aproveita desde Calcanhar de Aquiles de Phil e pratica a vingança, um prato que se serve frio, derrubando nossas perspectivas.
 
Entendemos que o filme é uma crítica ao machismo que impera ainda hoje, não só no profundo dos países como Estados Unidos, Brasil ou qualquer outro, mas na dissimulação da quase insustentável leveza da sexualidade.
 
Indicado ao Oscar em 12 categorias, sendo sua diretora, Jane Campion, a primeira mulher com duas indicações na carreira. Veremos em 27 de março se Ataque dos Cães leva boa parte das suas indicações. Podendo duas estatuetas irem para a mesma casa caso Jesse Plemons e Kirsten Dunst vençam como ator e atriz coadjuvantes. Eles são casados.
 
Houve um questionamento sobre o título do livro. Inclusive um dos maiores jornalistas culturais colocou a questão do título no Brasil ser Ataque dos Cães e não O Poder dos Cães, como é o título original tanto do filme quanto do livro de Thomas Savage. Pode ser uma questão de tradução. No final do filme, o personagem Peter aparece em seu quarto com a corda trançada na mão. Uma vez que sua mãe deu todo o coro para os índios, Peter oferece a Phil couro cru. No entanto este couro para que Phil termine a corda foi tirada da vaca morta por antraz. O único senão é que pelo suposto tempo a vaca já deveria estar em um estado mais avançado de decomposição. Em seguida ao ver sua mãe feliz com George, voltando do sepultamento de Phil, ele recita o versículo 20 do Salmo 22, que em cada tradução aparece de um jeito. Veja as diferentes traduções:
A que aparece na crítica de PAPO DE CINEMA:
Salmos, 20:22: 
"Livrai a minha alma da espada, 
e o meu ser, do ataque dos cães”
 
No BIBLEGATEWAY:
Salmos 22, 20: 
“Livra a minha alma das armas de morte;
poupa a minha preciosa vida da maldade desses cães.”

 
Bíblia Sagrada: Editora Ave-Maria
Salmo 21, 21: 
“Livrai da espada a minha alma,
E das garras dos cães a minha vida.”

 
Bíblia Sagrada: Edição Pastoral, Editora Paulus
Salmos 22, 21: 
“Salva meu pescoço da espada,
E a minha pessoa, das patas do cão!”

Então, pode ser uma questão de tradução apenas.


TRAILER



RESENHA ANTERIOR

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

TICK, TICK.. BOOM!: O RESGATE DO ENCANTO

 

O RESGATE DO ENCANTO

 


FILME: TICK, TICK... BOOM!

DIREÇÃO: LIN-MANUEL MIRANDA

ELENCO: ANDREW GARFIELD, ALEXANDRA SHIPP, ROBIN DE JESÚS

GÊNERO: DRAMA, MUSICAL

EXIBIÇÃO: NETFLIX

 

Confesso que La La Land: Cantando As Estações não me encantou. Sei que não sou bom com os musicais. Gosto de música, mas artisticamente meus ouvidos não são tão aguçados. 

Mas Tick, Tick... Boom! é aquele tapa na cara de quem anda desencantado com musicais. É como um agrupamento policial que te resgata da desesperança de um cativeiro.

O filme nos coloca dentro do universo árido da arte. Jonathan Larson é a síntese de tantos que ainda estão como insetos em volta da lâmpada chamada sucesso. Batalhar em sua obra enquanto se precisa de um emprego e conviver com a incompreensão, com a necessidade de outras pessoas como a namorada e ainda ter seu melhor amigo mudando de vida por causa de um emprego fora da arte, faz com que todo artista em desenvolvimento sinta-se projetado no personagem desta cinebiografia.

Foto de Jonathan Larson, biografado do filme.

Um escritor tem em suas gavetas, ou “nuvens”, os melhores escritos da sua vida, o compositor a melhor música, o roteirista o próximo ganhador do Oscar e nada acontece quando o relógio toca e ele precisa ir para o trabalho enfadonho de sempre. Mas é preciso persistência. A agente de Larson, Rosa Stevens, interpretada por Judith Light, pareceu-me a princípio um obstáculo na carreira do Jovem artista, mas depois da apresentação para os produtores. O seu musical superbia não interessou para a Broadway, ela, perdão pelo trocadilho, lança luzes sobre a carreira do garçon de uma lanchonete. É como se dissesse que o hambúrguer não ficou bom, faça outro, outro e mais outro, até acertar. Então vamos saborear o melhor que você pode fazer.

 

— O que devo fazer agora?

—Comece a escrever o próximo. E quando você terminar, comece o seguinte. E assim por diante.


E assim tivemos os próximos. O primeiro que foi o musical que deu nome ao filme. E Rent veio como o musical dos musicais de Larson. Infelizmente ele não viu seu sucesso. O Boom aconteceu para ele, fisicamente, aos 35 anos de idade. O nosso biografado tinha Síndrome de Marfan, que deixa o organismo com falta de fibrilina. Pensaram que era estresse, só na autopsia que revelou a verdadeira causa da sua morte.

Superbia, o musical que levou oito anos para ser escrito, foi inspirada nas obras de Orson Welles. A gente precisa começar com algo, assim como estou começando a Coleção de resenhas de cinema ANGULAR DO INTERIOR com essas notas sobre o musical que me encantou há duas semanas.

O ator Andrew Garfield interpretou toda a dedicação e apreensão de Jonathan Larson na sua curta trajetória. Ele também interpretou o brasileiro Eduardo Saverin no filme que retrata o início das redes sociais.

Outro fato preponderante no filme é o drama dos jovens soropositivos no início dos anos 90. Época que perdemos Cazuza, Renato Russo e Freddie Mercury, entre outros. Na véspera da sua apresentação para produtores, Larson se sente na obrigação de visitar um amigo no hospital. Depois de melhor amigo, com quem dividiu apartamento por um bom tempo, Michel também contraiu HIV e está com os dias contados. A metáfora da bomba relógio agora vale muito mais para ele que para Larson.

Mas vida de todo artista termina quando depara com a impossibilidade de continuar produzindo. Assim é que morre seus sonhos, seus projetos e tudo que produziu, mas não foi revelado. Todo mundo envolvido no mundo das artes deveria assistir o filme.

domingo, 2 de outubro de 2016

CULTURA DE RUA:Representantes de movimentos ligados à cultura de rua criticam a pena ap...

Representantes de movimentos ligados à cultura de rua criticam a pena aplicada a pichadores

BRIGA DE IRMÃOS 2 (Tempos de Infância)

10 OCUPADOS
Nosso estúdio é a RUA!
Divirta-se com nossos videos de comedia, inscreva-se no canal e de um like, alem de compartilhar com seus amigos.

Publicado em 30 de set de 2016
10Ocupados